“Os Mambembes”: clássico de Artur Azevedo faz curta temporada no Tuca
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Apesar dos compromissos assumidos pelo Brasil para reduzir as mortes no trânsito, traumas continuam vitimando, sobretudo, homens jovens e motociclistas, como evidencia pesquisa inédita realizada na Unidade Regional de Emergência do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (URE/CHS). O estudo, conduzido por Camila Saori Okida, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (FCMS) da PUC-SP, analisou 368 atendimentos entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, identificando aumento dos sinistros e reforçando a persistência do fator humano como sua principal causa.
Segundo o levantamento, os homens representaram 68,8% das vítimas, com média de idade de 33,2 anos. A faixa etária entre 21 e 30 anos concentrou mais de um terço dos atendimentos, evidenciando o maior risco para adultos jovens do sexo masculino – um padrão já observado em dados nacionais de morbimortalidade no trânsito.
Motocicletas estiveram envolvidas em 70,1% dos sinistros analisados, seguidas por automóveis (21,5%) e bicicletas (5,7%). Entre os mecanismos de trauma, as colisões predominaram (66,3%), enquanto quedas representaram 20,7%, atropelamentos, 8,4% e capotamentos, 4,6%.
Além disso, os motociclistas se destacaram como grupo de maior vulnerabilidade: 69,4% deles se envolveram em colisões e 24,4% em quedas. No caso dos automóveis, as colisões também foram a principal causa, mas houve registros de capotamentos e atropelamentos (estes últimos, mais frequentes entre idosos e crianças).
A análise dos padrões de lesão mostrou que as regiões externas (pele e tecidos moles) foram atingidas em 34,1% dos casos, seguidas pelos membros (26%). Lesões na cabeça ocorreram em 16,3% dos atendidos, o que ressalta o impacto dos traumas cranioencefálicos. Outras áreas afetadas incluíram abdômen/pelve (5,7%), face (5,1%), tórax (4,6%) e coluna (4,3%).
A maioria dos traumas foi considerada leve, de acordo com o Injury Severity Score (ISS), sistema utilizado para quantificar a gravidade das lesões. Ainda assim, houve número expressivo de casos graves: 24,7% dos pacientes necessitaram de internação hospitalar. O tempo médio de internação variou de acordo com a gravidade: 3,6 dias para traumas leves, 7,5 dias para moderados e 12,2 dias para graves.
O desfecho mais comum foi a alta hospitalar (85,3%), seguido de transferências (8,2%), evasões (3,8%) e óbitos (2,7%). Todos os óbitos ocorreram em pacientes com traumas classificados como graves, destacando a importância dos escores de gravidade para o prognóstico.
Os resultados indicam a necessidade de políticas públicas voltadas à redução de sinistros com motociclistas, intensificação da fiscalização do uso de equipamentos de segurança e promoção de campanhas educativas, principalmente para jovens e idosos. No contexto hospitalar, o uso sistemático de escores de gravidade e a racionalização dos exames complementares são apontados como medidas para otimizar recursos e melhorar desfechos clínicos.
A autora, Camila Saori Okida, ressalta que a experiência em atividades acadêmicas e científicas, aliada ao estágio prático na URE/CHS, foi fundamental para a compreensão dos desafios e fluxos do atendimento às vítimas de trauma, promovendo a integração entre teoria e prática. O trabalho contou com orientação dos professores-doutores Pérsio Campos Correia Pinto e José Mauro da Silva Rodrigues.
Em 2004, o professor-doutor José Mauro foi citado no livro “Guerra Civil”, escrito por Luiz Mir, que trazia estatísticas mostrando a realidade do trauma no Brasil. “Infelizmente, esses números não melhoraram”, lamenta. “No país, perdemos em torno de 130 mil pessoas por ano em decorrência do que chamamos de causas externas – ou seja, vítimas de violência interpessoal e de sinistros no trânsito. Estima-se que esses dois grupos tenham números equivalentes, o que nos leva a, aproximadamente, 60 mil mortes anuais decorrentes do trânsito.”
O docente destaca que o levantamento possui praticamente 100% de fidedignidade, pois todas as vítimas de eventos de trânsito — inclusive aquelas com planos de saúde — são atendidas no CHS. Além disso, todos os registros são feitos digitalmente, garantindo que o universo pesquisado abranja a totalidade das vítimas desses eventos no período analisado.
Em 2011, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu uma meta global para a Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020): reduzir em 50% o número de mortes no trânsito, objetivo do qual o Brasil foi signatário. No entanto, entre 2015 e 2023, a redução de óbitos no trânsito no país foi de apenas 9,11%, resultado considerado insuficiente frente à meta global.
Nesse contexto, o país implementou o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), alinhado aos princípios de Sistema Seguro da OMS. O plano busca uma gestão integrada e proativa da segurança viária, com foco em reduzir comportamentos de risco e proteger usuários mais vulneráveis, como motociclistas e pedestres. Ainda assim, os resultados indicam a necessidade de intensificar políticas públicas e ações preventivas em todos os níveis.
“Muito se fala em prevenção das mortes e acidentes no trânsito, mas poucos sabem que ela apresenta uma divisão clássica”, reforça o professor. “A prevenção primária consiste em evitar o evento. A secundária é representada pelo atendimento adequado à pessoa envolvida, visando diminuir a morbimortalidade. Finalmente, a terciária foca na reabilitação da vítima e na sua reintegração à sociedade”, enumera. “Portanto, políticas públicas eficazes precisam contemplar as três fases da prevenção e não apenas uma delas.”
José Mauro ressalta que, além disso, há três dimensões que influenciam os sinistros: condutor, via e veículo. “Nos últimos anos, tivemos avanços importantes nas condições das estradas – pelo menos, no estado de São Paulo – e os veículos tornaram-se mais seguros graças ao progresso tecnológico. Diante disso, por que as estatísticas não melhoraram proporcionalmente? A resposta está no fator humano: o comportamento dos motoristas, pedestres e ciclistas ainda é o principal determinante desses sinistros e de seus desfechos”, afirma.
O professor cita a tese de doutorado de Vitor Favali Kruger, da Universidade de Campinas (Unicamp), que aborda um paradoxo: “Durante a pandemia de Covid-19, houve uma queda drástica no número de veículos em circulação. Naturalmente, esperava-se uma redução proporcional nos índices de mortalidade no trânsito. No entanto, essa diminuição não se confirmou — nem aqui, nem em outros países, inclusive no Japão, conhecido pela disciplina exemplar de seus cidadãos”, narra José Mauro.
Ele prossegue: “A explicação reside no fato de que, com as ruas mais vazias e a fiscalização reduzida, muitas pessoas passaram a abusar da velocidade, subestimando os riscos. O resultado, surpreendentemente, foi o aumento da mortalidade, evidenciando que o fator humano permanece como o principal determinante desses eventos”.