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Cientistas chineses transplantaram, com sucesso temporário, um pulmão de porco geneticamente modificado em um homem com morte cerebral. O órgão funcionou por nove dias e reacendeu o debate sobre xenotransplantes e o futuro dos transplantes humanos. O experimento, divulgado em 25 de agosto pela revista Nature Medicine, foi conduzido pelo Primeiro Hospital Afiliado da Universidade Médica de Guangzhou, na China.
O paciente, de 39 anos, teve morte cerebral após uma hemorragia cerebral, e sua identidade permanece sob sigilo. Para o cirurgião torácico e docente do curso de Medicina da PUC-SP, Felipe Teixeira, trata-se de um avanço relevante, mas que ainda levanta questões importante.
“Tecnicamente, o transplante de pulmão é extremamente complexo. O desafio não se resume ao ato cirúrgico – ele se intensifica no pós-operatório, pois os pulmões têm contato direto com o ar e com patógenos presentes nele. Após o procedimento, é necessário ajustar a imunidade do paciente para evitar a rejeição do órgão e, ao mesmo tempo, preservar algum grau de defesa contra infecções”, pondera o especialista.
“Como ocorre com os grandes avanços da medicina, trata-se apenas do primeiro passo. Até que a técnica se torne segura e amplamente adotada, ainda deve levar muito tempo”, complementa. “Contudo, apesar das limitações, este é um passo importante para a área dos transplantes de pulmão, cuja principal limitação, hoje, é a falta de doadores. O experimento é inicial, mas abre diversas possibilidades”, ressalta Teixeira.
Para reduzir o risco de infecções e rejeição, o paciente recebeu uma combinação de medicamentos imunossupressores. O pulmão transplantado passou por seis modificações genéticas, enquanto o porco doador foi criado em ambiente rigorosamente controlado, livre de agentes contaminantes. Segundo o estudo, não foram observados sinais imediatos de rejeição após o procedimento; porém, as complicações começaram a surgir já no dia seguinte à cirurgia.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o transplante de pulmão – entre seres humanos, evidentemente – oferece uma esperança renovada para pessoas que sofrem de doenças pulmonares crônicas e progressivas, como enfisema e fibrose cística.
Anualmente, a ABTO publica o Registro Brasileiro de Transplantes. A última edição (2024) aponta que o transplante de pulmão é realizado em apenas quatro estados, e em número muito inferior à necessidade nacional. Dos 93 procedimentos realizados no ano, 46 ocorreram em São Paulo, 35 no Rio Grande do Sul, nove no Rio de Janeiro e três no Ceará.
Apesar dos obstáculos científicos, éticos e regulatórios que ainda se impõem, o experimento chinês representa um fato histórico na busca por alternativas à crônica escassez de órgãos. Se, por um lado, os resultados ainda estão longe de oferecer uma solução imediata, por outro, o avanço reforça a urgência de investimentos em pesquisa e de um debate público informado sobre os limites e as possibilidades da medicina regenerativa. O futuro dos transplantes pode, de fato, passar pelos xenotransplantes – mas o caminho até lá será, inevitavelmente, longo e repleto de desafios.