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Adolescentes estão recorrendo a aplicativos de namoro com mais frequência do que se imaginava — e, agora, há dados inéditos que qualificam esse fenômeno. Uma pesquisa publicada em julho no Journal of Psychopathology and Clinical Science revelou que 23,5% dos jovens entre 13 e 18 anos utilizaram esse tipo de plataforma em um período de seis meses. Pela primeira vez, o uso foi monitorado com base na atividade real no celular – incluindo digitações e navegação –, em vez de depender apenas de relatos autodeclarados, como é mais comum em pesquisas do tipo.
O levantamento revelou que os adolescentes que usaram aplicativos de namoro com maior frequência já apresentavam, antes do início do estudo, níveis mais altos de sintomas associados à depressão maior. Além disso, eram púberes há mais tempo e demonstravam maior propensão a comportamentos de risco.
Segundo a psiquiatra e professora do curso de Medicina da PUC-SP, Elaine Aparecida Dacol Henna, a adolescência é um período crítico para o surgimento de sintomas depressivos e ansiosos, sendo as relações sociais um fator importante tanto na origem quanto na manutenção desses quadros.
A especialista ressalta que, embora este estudo não tenha identificado diferenças deletérias significativas entre os grupos, observou-se uma associação entre maior número de trocas de mensagens e uma probabilidade mais elevada de sintomas depressivos ao longo da semana. Inserida em um contexto que vai além da medicina e abrange questões sociais, ela observa que essas plataformas expõem os jovens a riscos adicionais, como o aumento da vulnerabilidade à violência.
Uma revisão publicada em 2024 pela revista Trauma, Violence & Abuse revelou que entre 54% e 89% dos jovens usuários de aplicativos de namoro foram expostos à violência, tanto online (como o recebimento de fotos íntimas sem consentimento) quanto offline (como sexo sem consentimento e assédio). Essa violência tem sido associada a quadros de depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, queda na autoestima e aumento da solidão.
Outro risco relevante é o catfishing, prática em que alguém finge ser outra pessoa para manipular emocionalmente a vítima e obter imagens íntimas, que podem ser usadas posteriormente para extorsão ou chantagem.
A professora de Psiquiatria da PUC-SP explica que relacionamentos bem-sucedidos dependem de habilidades como diálogo, empatia e capacidade de lidar com conflitos – competências que se desenvolvem, principalmente, por meio de interações presenciais. Estudos apontam que vínculos próximos e saudáveis não apenas favorecem a felicidade, como também exercem efeitos positivos sobre a saúde física.
Há um corpo substancial de pesquisas indicando que a adolescência é um período-chave para a exploração da identidade social, o que inclui o desenvolvimento de relacionamentos românticos, da identidade e da atração sexual – aspectos fundamentais para a construção de habilidades relacionais que servirão de base para a vida adulta.
Atualmente, grande parte dos relacionamentos se estabelece no ambiente virtual, criando uma nova forma de comunicação social, que pode impactar o desenvolvimento dessas habilidades sociais. No entanto, os efeitos dessa transição só poderão ser avaliados com mais clareza ao longo do tempo.
Em jovens, frustrações amorosas recrutam de forma intensa os circuitos de “dor social” e estresse. A rejeição ativa regiões como o córtex cingulado anterior dorsal e a ínsula anterior, além de engajar redes límbicas (como a amígdala e o estriado ventral), associadas à saliência e ao sistema de recompensa, moduladas por dopamina e oxitocina. Em paralelo, o eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal pode elevar os níveis de cortisol, o que se junta à hipervigilância, ruminação e alterações no sono e no apetite.
Como o córtex pré‑frontal – responsável pelo controle inibitório e pela regulação emocional – ainda está em processo de amadurecimento no final da adolescência e início da vida adulta, a integração dessas respostas tende a ser menos eficiente. Isso contribui para emoções mais intensas, maior sensibilidade a pistas sociais e, em alguns casos, decisões mais impulsivas. Esses efeitos são, em geral, transitórios e variam entre indivíduos; não implicam dano estrutural, mas ajudam a explicar por que a dor de perda ou rejeição romântica pode ser percebida como fisicamente “dolorosa” e cognitivamente absorvente nessa faixa etária.
Especialistas recomendam que os pais e responsáveis conversem com os filhos sobre o uso de aplicativos e incentivem formas mais saudáveis de socialização, como atividades extracurriculares e encontros presenciais. Também é importante orientá-los para o uso seguro dessas plataformas: fazer chamadas de vídeo antes de encontros, escolher locais públicos, avisar familiares e evitar ficar a sós até haver confiança.
Embora muitos pais acreditem que seus filhos não usariam aplicativos de namoro, dados mostram o contrário. Manter o diálogo aberto é essencial para que desenvolvam relacionamentos mais saudáveis, longe das telas.